sábado, dezembro 06, 2025

CUSPIDOS PELO GOVERNO - ROGÉRIO CARVALHO E EDVALDO NOGUEIRA

Mera reflexão de quem observa a política à distância 

A composição da chapa majoritária anunciada pelo governador Fábio Mitidieri para as eleições de 2026 revela, antes de tudo, uma engenharia política construída nos gabinetes, a partir de acordos e conveniências partidárias, mais do que de um debate público amplo com a sociedade. Ao escolher o deputado estadual Jeferson Andrade como vice e formar a dupla ao Senado com André Moura e Alessandro Vieira, o governador sinaliza uma estratégia de ampliação do arco de alianças, ainda que isso imponha desafios evidentes de coerência política e narrativa eleitoral.

O maior deles está justamente na tentativa de unificar, no mesmo palanque, André Moura e Alessandro Vieira, dois nomes que, historicamente, transitam por campos políticos distintos e que dialogam com eleitorados diferentes. Para que essa unidade seja viável, a narrativa precisará ser cuidadosamente construída em torno de um discurso de “frente ampla”, governabilidade e suposta convergência em torno de um projeto para Sergipe. No entanto, o risco é que essa costura seja percebida apenas como um arranjo pragmático pelo poder, esvaziado de identidade política consistente.

A presença de Jeferson Andrade na vice-governadoria também carrega o peso dos acordos do passado. Nos bastidores, a indicação é lida como o cumprimento de compromissos firmados há cerca de quatro anos, ainda na construção do projeto que levou Mitidieri ao governo. Embora politicamente compreensível, esse tipo de escolha reforça a percepção de que a formação da chapa responde mais a pactos partidários do que a uma leitura atualizada das demandas da população.

No centro de tudo está a mensagem que Fábio Mitidieri tentará levar ao povo sergipano ao buscar a reeleição. O discurso deverá girar em torno da continuidade administrativa, da defesa dos resultados alcançados e da promessa de aprofundar ações estruturantes. Porém, essa narrativa enfrentará, inevitavelmente, o confronto com a realidade vivida por grande parte da população, especialmente nas áreas mais sensíveis, como saúde, abastecimento de água e educação.

A crítica que ganha força é justamente a de que o povo segue ausente das grandes decisões políticas. A composição da chapa não passou por qualquer processo de escuta popular direta. O sergipano não foi consultado quando espera atendimento no HUSE, quando enfrenta a escassez de água e os problemas no serviço de abastecimento, ou quando professores cobram diálogo e valorização. Nessas filas, nas salas de espera e nas comunidades, não houve espaço efetivo para opinar sobre os rumos desse projeto de poder.

O contraste é evidente: de um lado, negociações seladas em ambientes confortáveis e climatizados; do outro, uma população que segue do lado de fora, muitas vezes sob o sol forte, assistindo às articulações que definem seu futuro político. A distância entre a cúpula do poder e a vida real do cidadão comum permanece como um dos grandes desafios do atual governo e de sua tentativa de renovação de mandato.

A chapa de 2026, portanto, nasce forte do ponto de vista das alianças partidárias, mas vulnerável na dimensão simbólica e social. A grande questão que se impõe é se esse projeto conseguirá se traduzir em uma narrativa que dialogue, de fato, com as angústias e expectativas do povo sergipano — ou se será apenas mais um capítulo de uma política conduzida de cima para baixo. Com 2026 se aproximando, essa resposta começará a ser dada não apenas nos palanques, mas principalmente nas ruas.

O projeto de permsnência do Poder está escalado, enquanto inexiste o projeto de governo.

“Sem a capacidade de compreender a crítica, não cabe o elogio sincero.”

(Da redação. Imagem: divulgação)

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